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2x4 patas no Porto - parte 3

Writer's picture: o mundo dos cãeso mundo dos cães

Eu e a Mázli concordamos que deveria ser eu a contar o segundo dia da nossa jornada, porque eu era a única acordada. É uma pena, mas ela dormiu muito e perdeu muitas coisas interessantes. Quando saímos da cidade, recomeçou o caminho para cima e para baixo. Normalmente eu odeio andar de carro, mas, desta vez, foi diferente, pois cavalgávamos junto ao mar de que tanto gostei. De tempos a tempos, passávamos por túneis e não conseguia ver nada, mas, quando saíamos, eu encontrava o meu novo amigo outra vez. Nós estávamos bastante mais acima, mas eu ainda conseguia sentir o cheiro agradável do mar. Tenho que admitir que fiquei um pouco assustada, mas, como em muitas outras vezes, a minha curiosidade era mais forte do que o meu medo.

Infelizmente, passado pouco tempo, voltámos para a autoestrada aborrecida. E, nada comum comigo, mas passei pelas brasas. Quando acordei, estávamos novamente a atravessar montanhas. Era tão alto e perigoso, que a estrada parecia uma montanha-russa. Já era tarde quando finalmente chegámos à nossa segunda paragem. Não me lembro do nome do lugar, apenas do cheiro. Eu e a Mázli gostámos, claro, mas pude sentir a repugnância das nossas humanas. Já mencionei que elas não têm ideia do que é um bom cheiro?

Aqui não houve festas nem carinhos. O homem do hotel disse-nos que era proibido latir nos quartos - e foi mais ou menos tudo o que ele disse. As minhas humanas estavam a sorrir, mas eu sentia que elas queriam mordê-lo. Nós não latimos no quarto, como é óbvio. Apenas noutros lugares.

Naquela noite, tivemos mais sorte do que as nossas humanas, no que respeita à comida. Nós recebemos o nosso jantar, como de costume, mas elas estavam esfomeadas. Não havia nada aberto naquela pequena cidade, a não ser uma loja que não vendia comida, só garrafas. Então elas compraram uma e beberam. Quando terminaram, pararam de reclamar e começaram a falar alegremente. Então, no final, fomos todas para a cama de bom humor, no nosso quarto muito bem cheiroso. Já mencionei que o quarto também era assim?

Eu tenho mais uma memória deste lugar cheiroso. Fomos dar uma volta na rua, como fazemos sempre que estamos no estrangeiro – desta vez, num parque com um enorme edifício no meio. De repente, uma mulher grande, malcheirosa e desgrenhada apareceu do nada e começou a gritar connosco numa linguagem que eu não conseguia entender. As minhas humanas sorriram de novo, mas, tal como na noite anterior, cheirei que elam podiam mordê-la onde realmente doesse. Depois de alguns minutos de gritos - sorrisos - cheiros, viramos e saímos do parque. Fomos diretas para o nosso carro, saltamos lá para dentro e arrancamos a todo o gás.

Mais tarde, eu descobri, pela conversa das minhas humanas, que a mulher desgrenhada disse para deixarmos o parque imediatamente, porque era o jardim daquela igreja sagrada e ali não havia lugar para animais imundos – aparentemente, ela referia-se a nós, cadelas.

Bem, eu não sei quem criou essa regra, mas nunca ouviu falar de São Francisco, com certeza. E até eu ouvi falar dele…


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